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Pole dance, esporte e liberdade

  • Foto do escritor: joiceantero
    joiceantero
  • 18 de dez. de 2018
  • 8 min de leitura

Conheça melhor o pole dance como uma modalidade esportiva


O pole dance ainda é um tabu. Sua origem deriva de duas modalidades esportivas: o mallakhamb e o mastro chinês. O mallakhamb é uma tradicional ginástica indiana, usando cordas e postes de madeira, para preparar ou melhorar o condicionamento físico de lutadores. Também podem ser observados nele elementos de ioga e ginástica artística. Já o mastro chinês, famoso em espetáculos circenses, é uma atividade chinesa que envolve movimentos acrobáticos em um mastro de ferro de até nove metros. Ambas são originalmente dominadas por homens, e mesmo sendo a base para os movimentos que formam o pole dance, apenas a prática feita majoritariamente por mulheres foi estigmatizada.


A erotização relacionada ao pole dance se popularizou na década de 1980, nos strip clubs ingleses. Criado provavelmente com o intuito de aperfeiçoar, deixar mais atrativo, o trabalho das dançarinas de boates na época. Com o tempo a técnica ficou conhecida em outros países, sendo comum, principalmente, nos EUA, Canadá, Rússia e Ucrânia. Mas essa não é a única modalidade existente do pole. O pole não é limitado a um conceito, a dança se desenvolveu em variadas técnicas e estilos. Hoje, podem ser destacadas três deles: pole exotic, pole art e pole sport. O pole exotic é a vertente mais próxima do que é definido como pole dance, a dança sensual. O diferencial é o uso de saltos altos específicos para a atividade, de mais ou menos quinze centímetros. Seguindo o caráter artístico, no pole art preza-se a performance, a história que a coreografia, a música e os movimentos vão passar.  No pole sport a concentração se dá como uma modalidade esportiva, com foco está na demonstração de força e flexibilidade, exigidas através de números mais acrobáticos. 

As variações do pole dance não são totalmente desvinculadas umas das outras, elementos diferentes que os identificam podem ser mesclados, criando até novas formas de pole. Porém, o pole sport, é uma vertente que vem causando discussão. Há uma dúvida se a prática poderia ou não ser definida como um esporte, por ser em sua essência uma dança.

No Brasil


Em 2007 a novela Duas Caras trouxe Alzira, personagem da atriz Flávia Alexandra, popularizando o pole dance pelo país. Na época, por causa do sucesso da personagem, e cenas que eram interpretadas pela própria Flávia, pela primeira vez se pensava no pole dance no Brasil como uma atividade que poderia ser ensinada livremente, em estúdios e academias. Mas, passada essa “febre”, a dança não permaneceu como algo comumente praticado. 

A inglesa Katie Coates criou, em 2009, a IPSF (The Internacional Pole Sports Federation). A instituição promove um novo estilo de pole dance, com o cunho físico e esportivo, o pole sport. A partir disso, outras federações logo surgiram pelo mundo e equipes competitivas foram organizadas. Possibilitando o 1º Campeonato Mundial do pole como esporte no ano de 2012 com apenas 43 atletas de 14 países. 

Santa Catarina, Paraná, Piauí, Pernambuco e Bahia construíram federações do esporte no Brasil e a união delas formou a FBPOLE (Federação Brasileira de Pole Dance). A FBPOLE administra modalidades tanto esportivas como artísticas pelo país.

Apesar da oficialização de ter uma federação para a modalidade, alguns adeptos ao pole sport espalhados pelo mundo ainda tinham o desejo de ver a atividade  reconhecida como um esporte. Esse objetivo começou a ser alcançado legalmente em 2017, quando a prática recebeu status de “observador” pela GAISF (Global Association of International Sports Federation). Ser  um “observador” permite ao pole sport ser reconhecido provisoriamente como esporte internacionalmente. A modalidade poderia, por exemplo, fazer parte do COI (Comitê Olímpico Internacional) futuramente, ou seja, vir a ser um membro das olimpíadas.

Independente das federações esportivas no Brasil, nos últimos anos sua direção é contraria ao que é feito em outros países, ele não define o pole como esporte oficialmente.  No ano passado o STF (Superior Tribunal de Justiça) decidiu mais uma vez que a prática é uma dança. Mas a decisão não impede que continue a ser considerado um esporte internacionalmente.


O Pole como arte



Cristiana Ghislandi é fundadora e sócia de Nick no estúdio Pole House Studio, no Corredor da Vitória. Cris contou que não sabe exatamente quando começou a se interessar pelo esporte “eu vi no YouTube e achei um vídeo de Pole Sport, uma menina ensinando as técnicas, de alguns movimentos. Como fazer, onde travar qual era a pegada na barra, eu me interessei e aí eu comecei a procurar”. Muitas alunas buscam a prática por conta de sua ludicidade, além da funcionalidade ‘’as mulheres estão trabalhando o corpo, mas de uma forma diferente, que trabalha a autoestima’’ relata Cris. A modalidade está crescendo atualmente e virando febre, mas nem sempre foi assim. Cris relata que na época que se interessou logo pela prática, mas teve dificuldades de encontrar locais para se exercitar na cidade. “Em Salvador na época, tinha nada, eu achei uma menina que dava aula aqui em Salvador no apartamento dela, em um quartinho que ela adaptou, botou as barras”


A prática ainda é muito hipersexualizada e o lado esportivo é pouco conhecido. As pessoas se limitem e não conheçam realmente o que é o pole dance, e esse preconceito está muito ligado à desinformação, ‘‘muitas pessoas tem uma visão errada, e quando chegam aqui veem que é um exercício que trabalha o corpo um exercício físico mesmo’’ segundo Cris.

Em geral as alunas iniciam a prática com esse conceito de trabalhar a sensualidade, mas depois percebem que o pole dance e muito mais além, e conhecem esse papel de exercício físico. Além de trabalhar o corpo, o pole impulsiona as mulheres a melhorarem a autoestima e na aceitação do próprio corpo. A modalidade exige um domínio corporal, e uso de roupas mais curtas que possibilitem o contato com a barra como conta a própria Cris ‘’ A grande maioria quer fazer para sensualizar para o namorado, aí começam a ver o que é o pole e esquecem o namorado’’

A procura por um exercício físico que trabalhe a flexibilidade e liberdade corporal também é um diferencial para as pessoas que praticam o pole dance. A própria estruturação da modalidade e dos exercícios exige um trabalho de força muscular, trabalha a flexibilidade dos músculos do corpo inteiro, a perda de peso é uma consequência ‘’algumas pessoas vêm porque quer fazer exercício e não quer ficar sedentária, sabe que vai trabalhar o corpo que vai fortalecer, mas que ela vai dançar com grupos de amigas’’ como citou a professora Cris.


O crescimento de adeptos da modalidade é um ponto positivo que pode ajudar a desconstruir esse estigma sexual. Segundo a professora Cris, O pole é um esporte que “não tem restrições físicas: gordo, magro, alto, até mesmo pessoas com deficiência existem modalidades, então qualquer pessoa pode fazer, e que ele começou a ser visto como uma ginástica mesmo, e que a evolução é muito particular, cada pessoa se relaciona com o esporte da própria maneira.’’ Cris afirma que, apesar do crescimento de adeptos do esporte, na Bahia essa mudança ainda é pouco perceptível. Com relação aos eventos voltados para o esporte, no estado Baiano o público ainda é pequeno se comparado a outros estados. 



As adeptas da modalidade contaram que gostam da liberdade da prática, e que o pole esporte é bem direcionado e rígido. Apesar de não ser regulamentado como esporte, as competições são criteriosas nas avaliações das apresentações, e que se assemelham bastante com a ginástica olímpica nesse aspecto. Érika inclusive relatou que essa rigidez nas competições, limita muito a modalidade, o que faz com que todas as coreografias fiquem muito parecidas, " eu não participo mais de competições que tem códigos, acho que tudo isso deixo pole dance muito engessado" 


Investimento


O reconhecimento investimento financeiro ainda pequeno em relação à outras modalidades, o que limita ainda mais o crescimento e adesão de praticantes e competidores. Érica conta, que os campeonatos não proporcionam retorno financeiro "você ganha visibilidade, apenas isso, em algumas competições de pole arte tem premiação dinheiro, mas nada significativo". 

Érika também ressalta que a Bahia é o único estado em que se professores estúdio são amigos e quem em outros estados, existe rivalidade entre os professores dos estúdios de pole dance, e isso também ao fator que contribui para limitar o crescimento do esporte. 


Inclusão


A inclusão de pessoas com deficiência é outro ponto importante do polo esporte. Há disputas de todas as modalidades, com competidores com deficiências de mobilidade, como cadeirantes ou pessoas que usam próteses, surdos e cegos. A australiana Débora Roach, que nasceu sem um dos braços, é exemplo de superação e usou o pole dance para vencer a depressão , ao se destacar no pole esporte paraolímpico.


A professora Alice Suzart conta que as reações das pessoas variam quando ela conta que é professora de pole dance. Ela é professora de pole dance para iniciantes e conheceu o pole no ano de 2013, mas já tinha bagagem em outras modalidades corporais. Alice enfatizou o poder psicológico de superação do esporte, e que alia o Pilates para complementar no condicionamento físico. Em preparação desde fevereiro, ela treina quatro vezes por semana, e que quanto mais próxima maior intensidade dos treinos.


Aisha Britto, artista circense e professora de pole dancem na escola italiana de Turim. Ela relatou que iniciou na prática com intenção de incluir uma performance em um espetáculo. No circo, ela é especialista em mastro chinês, ressaltando a ligação entre as duas modalidades e as mudanças entre os adeptos da prática, "a gente nota um crescimento de mulheres praticando o mastro chinês que é bem parecido com o pole dance, mas sempre foi uma prática predominantemente masculina".

Ela também fez uma análise comparativa sobre o mercado de pole dance internacional e o brasileiro, e nos contou que a modalidade é muito mais valorizada no exterior. Britto é professora de pole arte na Itália e relatou que se mantém financeiramente somente como professora de pole dance. Sobre o preconceito, ela relatou que fora do Brasil as pessoas veem o pole dance com outros olhos "é uma coisa mais avançada, muita gente faz pole dance, de todas idades e tipos, senhoras, mães, crianças, existe um outro olhar".

Não existe uma data específica de surgimento do pole como prática esportiva, mas as competições acontecem desde o século XII, em diversas categorias.


O STJ (Supremo Tribunal de Justiça) não permitiu, no ano passado, que o pole fosse legalmente considerado um esporte. Essa decisão repercutiu de maneira distorcida, segundo a professora de pole Erika Thompson. Essa regulamentação do pole “é uma tentativa de algumas pessoas que querem higienizar o pole”, neste caso, apenas professores formados em Educação Física poderiam dar aulas e ganhar com isso. Erika questionou essa tentativa e fez uma comparação com o futebol “um técnico de futebol, ele não é educador físico, ele é um ex-jogador, o mesmo acontece no pole”, pessoas que já treinam há muito tempo e participam de competições, são procuradas para dar aula, “ninguém me pergunta se eu sou formada, elas só querem aprender”.

No Brasil a maior competição de Pole Sport é a realizada pela IPSF (Federação Internacional de Pole Sport). Ela acontece em todos os países e é a responsável por classificar quatro de cada nação para o mundial, duas da categoria feminina e duas da feminina. Alessandra Rancan, Luciana Ongaro, Filipe Sabóia e Guilherme Ambrósio, foram os brasileiros classificados desse ano para o mundial. 

Nossas entrevistadas preferem outros campeonatos, o IPSF “é muito exigente e técnico e não permite muita criatividade, os movimentos são predefinidos, acaba sendo previsível” relata Cris Ghislandi.

“Se eu quero fazer o esporte eu faço, mas se eu quiser botar uma calcinha e rebolar minha bunda de salto alto, não mereço menos respeito na minha atividade, essa coisa de querer limpar o nome do pole, o pole dance veio da putaria, veio da boate, tem que respeitar essa origem. Não é porque a pessoa quer fazer o sensual que ela vai ser menor que a outra que faz o esporte.”- Erika Thompson

A competição é dividida da seguinte forma:


Divisões 

• Amadora • Profissional • Elite

 

Categorias 


• Pré-novato • Novato • Junior • Senior • Master 40+ • Master 50+ • Duplas 

• Duplas Senior 


Por Fábio Passos, Joice Antero e Sara Barroso



 
 
 

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